Brasília, 29.05.25 - O Brasil tem o segundo menor investimento no setor espacial do G20, mostra um levantamento inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Estratégico para soberania, desenvolvimento e exploração de novas tecnologias, o setor espacial brasileiro recebeu US$ 47 milhões em recursos públicos em 2023, o equivalente a 0,002% do PIB do Brasil. O montante posiciona o país à frente apenas do México - entre os países e blocos que compõem as 20 maiores economias do mundo - e é cerca de 30 vezes menor do que a média do grupo.
O levantamento da CNI revela todo o ranking, que tem como líder os Estados Unidos. Em 2023, os norte-americanos tiveram um PIB de US$ 27,7 trilhões e investiram US$ 73,2 bilhões no setor, o equivalente a 0,264% do PIB. Em segundo lugar, a Rússia investiu 0,169% do PIB de US$ 2,02 trilhões. A França foi a terceira nação que mais investiu no setor espacial: 0,114% do PIB de US$ 3,05 trilhões.
Confira a íntegra do estudo.
Usados em áreas estratégicas como comunicação, observação da terra, geolocalização, previsão do tempo, defesa, exploração espacial e voo tripulado, os satélites são ferramentas cada vez mais essenciais em nosso dia a dia. Apenas em 2023, a indústria espacial movimentou cerca de US$ 400 bilhões em todo o globo. Desse total, 71% do faturamento vem da indústria de satélites. Segundo estimativas do Morgan Stanley, o setor deve criar receitas de mais de US$ 1 trilhão até 2040.
O Brasil investe menos no setor espacial do que nações do G20 com menores níveis de PIB, de população e de território, como Austrália, África do Sul, Argentina, Arábia Saudita e Turquia. Como comparação, a África do Sul teve, em 2023, o PIB de US$ 380,7 bilhões (5,7 vezes menor que o brasileiro). Mesmo assim, o orçamento espacial sul-africano foi de US$ 128 milhões (2,7 vezes maior que o brasileiro).
Os governos têm papel essencial na expansão do setor espacial, sendo responsáveis pela maior parte do financiamento global. Segundo dados da Euroconsult, em 2023, o aporte governamental mundial em programas espaciais foi de US$ 117 bilhões. Dois países (Estados Unidos e China) foram responsáveis por 74,7% desse montante. O Brasil representa apenas 0,04% do orçamento mundial. No mesmo ano, segundo a Space Capital, o investimento privado foi de US$ 18,4 bilhões.
“O grande problema de o país investir pouco em engenharia aeroespacial nacionalmente é que, quando você tem a necessidade de comprar serviços desenvolvidos por satélites estrangeiros, você está financiando o desenvolvimento espacial de outras nações e, ao mesmo, deixando de aproveitar e desenvolver a indústria nacional do setor”, destaca o superintendente de Política Industrial da CNI, Fabrício Silveira.
Alta dependência de satélites estrangeiros
O estudo da CNI traz recortes que demonstram a alta dependência mundial do serviço de navegação conhecido como GPS, usado diariamente em serviços de transporte por aplicativo, de entregas e de geolocalização, desenvolvido e mantido pelos Estados Unidos.
Segundo dados da London Economics, uma suspensão no o ao sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS da sigla em inglês) por cinco dias traria perdas econômicas da ordem de R$ 32 bilhões. Outro estudo e O’Connor et. al estima perdas econômicas, apenas nos Estados Unidos, de R$ 153,3 bilhões por uma interrupção de 30 dias no sinal do GPS, podendo chegar a R$ 230 bilhões em períodos críticos para a agricultura - de R$ 5,1 bilhões a R$ 7,7 bilhões por dia.
Atualmente, o Brasil opera apenas 24 satélites, entre mais de 13 mil satélites em órbita, e por isso é dependente da infraestrutura estrangeira. Um levantamento do Programa Espacial Brasileiro (PEB) mostra que apenas o Poder Executivo demanda, anualmente, R$ 860 milhões em serviços espaciais. O histórico de baixo investimento no setor impede a redução da dependência por satélites estrangeiros. Entre 2013 e 2023, o orçamento destinado à Agência Espacial Brasileira (AEB) caiu 68%.
De acordo com o Competitividade Brasil 2023-2024, elaborado pela CNI, o Brasil ocupa a 12ª posição no ranking no fator de infraestrutura digital e urbana, em relação a 18 países, que leva em consideração, entre os principais requisitos, satélites em órbita. Os Estados Unidos lideram o ranking enquanto Peru, Índia e Colômbia aparecem atrás do Brasil.
Uma eventual perda de o ao GPS causaria interrupções nos serviços de telecomunicações, transporte, no sistema financeiro, na agricultura de precisão, entre outras atividades militares, governamentais e comerciais, provocando um verdadeiro “apagão nacional”.
Atentos a esses possíveis riscos, países como Índia e Japão desenvolveram sistemas de posicionamento próprios. Outros, como Turquia e Emirados Árabes Unidos, estão criando seus próprios sistemas de geolocalização.
Investir no setor espacial significa depender menos dos satélites estrangeiros. Em 2019, por exemplo, o Brasil poderia ter identificado com mais rapidez o derramamento de petróleo na costa do Nordeste e do Sudeste e, consequentemente, atuado com mais rapidez para conter as manchas. Naquela ocasião, o governo brasileiro dependeu de apoio internacional para investigar o caso, o que acabou afetando por mais tempo o meio-ambiente e as atividades pesqueira e turística da região.
“É importante reduzir a dependência do Brasil por infraestrutura espacial estrangeira. Para isso, é fundamental aumentar o investimento no setor. A experiência internacional mostra que o investimento governamental reduz o risco dos projetos e mobiliza o capital privado ao gerar demanda no setor. Instrumentos como as missões espaciais, os editais de financiamento e subvenção e as encomendas tecnológicas podem ser usados para aumentar o engajamento no setor”, sugere Silveira.
Confira o estudo completo.
Novos investimentos e previsão de recuperação do setor nos próximos 10 anos
O Brasil tem oportunidades no setor aeroespacial. Segundo a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), o país poderia mudar o cenário de poucos investimentos em um horizonte de 10 anos. “A indústria espacial brasileira pode ser protagonista global, assim como a respeitada indústria aeronáutica. Atualmente dependemos de satélites estrangeiros para atender a necessidades básicas da sociedade brasileira. Temos que mitigar essa vulnerabilidade que ameaça nossa soberania”, avalia o presidente da AIAB, Julio Shidara.
Projetos recentes demonstram que o país tem capacidade de desenvolver o setor espacial. Em 2022, foi lançado o Amazonia-1, o primeiro satélite 100% brasileiro. O satélite foi o primeiro completamente projetado, integrado, testado e operado pelo país.
Em abril de 2023, o primeiro satélite privado de alto desempenho desenvolvido pela indústria brasileira foi lançado. O VCUB1 foi desenvolvido pela Visiona em uma rede de parceiros que inclui o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados e será usado para observação da Terra e coleta de dados. Essa parceria continua com o desenvolvimento do SatVHR, um satélite brasileiro de pequeno porte e alta resolução que poderá ser usado para monitorar florestas, rios e mares, ajudar no planejamento de cidades e auxiliar no processo de digitalização da agricultura.
Outro importante projeto em desenvolvimento é o Constelação Catarina. Serão construídos 12 nanossatélites para realizar o sensoriamento remoto do território e atmosfera. O projeto é uma parceria entre o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Entre 2022 e 2023, a Finep lançou três editais para incentivar a inovação no setor aeroespacial. Os investimentos somam R$ 991 milhões em recursos para subvenção e investimento privado. Os recursos serão destinados para desenvolvimento de plataformas demonstradoras de novas tecnologias aeronáuticas; desenvolvimento de satélite de pequeno porte de observação da Terra de alta resolução; e desenvolvimento e lançamento de veículos de pequeno porte para lançamento de nano e/ou microssatélites.
No início de 2024, foi firmado um Acordo de Parceria entre o SENAI-CIMATEC, o Governo Federal e o Governo da Bahia para a criação do Parque Tecnológico Aeroespacial da Bahia. O parque vai integrar atividades de ensino, pesquisas avançadas e inovação no campo aeroespacial.
Nova Indústria Brasil (NIB) – R$ 113 bilhões para a indústria de defesa
O setor aeroespacial também é contemplado na Nova Indústria Brasil (NIB) - política industrial orientada por missões proposta pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). A missão 6 da NIB visa aumentar a autonomia e a soberania do país no setor aeroespacial.
Ao todo, serão aportados cerca de R$113 bilhões na missão, que busca ampliar o domínio brasileiro em áreas como radares, satélites e foguetes. Os investimentos públicos incluem o PAC Defesa, com mais de R$ 31 bilhões, para projetos como o caça Gripen, o avião cargueiro KC-390, viaturas blindadas, fragatas e submarinos.
A prioridade será para ações voltadas ao desenvolvimento de energia nuclear, sistemas de comunicação e monitoramento climático, tecnologia de propulsão, além de veículos autônomos e controlados de forma remota.
A missão tem a meta de alcançar, até 2026, até 55% de domínio das tecnologias críticas para a defesa, e até 2033, cerca de 75% de domínio. Para se ter uma ideia, atualmente a indústria de defesa brasileira possui 42,7% de domínio dessas tecnologias críticas para o setor.
O tema também está presente no Mapa Estratégico da Indústria da CNI (2023 - 2032) e no Plano de Retomada da Indústria, que recomendou, entre outras prioridades, o investimento em tecnologias e inovações de uso dual, que têm aplicação tanto no meio civil como militar, o que fortalece a indústria de defesa e segurança nacional.
Com informações da CNI
Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina - FIESC
Gerência de Comunicação Institucional e Relações Públicas
Quer ficar por dentro das principais notícias sobre economia e negócios em Santa Catarina, no Brasil e no mundo? Assine a newsletter Indústria News e tenha o todos os dias a melhor curadoria de conteúdo econômico, além de notícias exclusivas sobre a indústria catarinense. Você escolhe como receber: direto no seu e-mail, no WhatsApp, ou no LinkedIn. Assine.